Estava pensando sobre a possibilidade de escrever mais, registrar todos os dias algumas das coisas incríveis que tenho vivido com a minha família na estrada, mas verdade é que estamos inseridos num processo de aprendizado e autoconhecimento mais profundo do que jamais imaginamos. Por tanto, escrever todos os dias pode ser cansativo, mesmo que eu ame fazer isso, poderia ocupar um tempo dos dias que preciso aprender para sobreviver.
Viver na estrada não exige muita rotina, ao menos aquela rotina tradicional cansativa que todos os dias é possível ser vista no rosto das pessoas que pegam ônibus lotado ou enfrentam os trânsitos das cidades para ir ao trabalho, mas posso dizer que é necessário ter o mínimo de organização e discilpina para que se tenha controle sobre coisas que sejam controláveis, como por exemplo os tempos em que precisamos trabalhar para continuar viajando ou os horários das refeições, que nessa rotina na estrada são tão difíceis de realizar com rigor. Precisamos ter esse controle para que a vida possa ser minimamente discplinada ao passo que tentamos nos desintoxicar de quaisquer semelhanças com a vida que vivíamos antes de pegar a estrada.
Vivemos tudo que um dia sonhamos e na verdade parece que ainda estamos sonhando e a qualquer momento podemos acordar e ter a triste surpresa de que tudo pode vir a ser invenção da nossa mente. Se isso acontecesse, não seria uma surpresa, pois temos a dimensão de quão difícil está sendo realizar essa tão sonhada viagem pela América do Sul.
Agora estamos na Argentina, na província de Chubut, mais precisamente em Rawson, a capital que não tem cara de capital e que é banhada pelas frias águas que ligam o oceano atlântico à Patagônia. Tomei a liberdade de dizer que a capital não tem cara de capital, pois a maioria dos Argentinos que encontramos disseram que não entendiam o motivo de Rawson ser capital, pois era pequena e o centro econômico de Chubut poderia ser em uma cidade mais relevante. Não conheço suficientemente a geografia argentina para opinar de uma maneira mais detalhada, mas acredito que um dos motivos da relevância de Rawson se deve a uma extensa área portuária que pode ser economicamente relevante para a província de Chubut.
Ficamos em Rawson uma semana, não conhecemos detalhadamente a cidade, mas dá pra perceber que é uma cidade que recebe pessoas à procura de um balneário para se banhar ou pescar. Durante nossa estadia conseguimos perceber uns corajos se banhando nas água frias do Oceano Atlêntico Argentino. Paramos a nossa casa rodante em frente ao mar avistávamos a todo momentos os barcos pesqueiros chegando no porto de Rawson. Foram dias bem tranquilos. Antes de chegar aqui em Rawson estivemos em Puerto Madryn, um lugar que ficou marcado em nossas memórias, não só pelo lugar, mas pelas pessoas que encontramos e que nos receberam de braços abertos e sua casa. Seremos gratos eternamente por cada pessoa que tem nos recebido nesa nossa jornada e nem sabemos como agradecer, mas tenham certeza que todos estão num lugar especial em nossos corações.
Nossa vida na estrada tem nos proporcionado encontros e desencontros e temos aprendido a lidar com ambos de maneira saudável, acontecem naturalmente e quando piscamos os olhos somos como uma família. E como toda família há momentos em que precisamos nos despedir e seguir nossa vida. Assim seguimos na estrada curtindo cada momento, tentando aproveitar cada conversa, cada sorriso, cada paisagem. Chegará o dia em que teremos que voltar pra casa, mas já não seremos nós, pois estamos sendo transformados por tudo que estamos vivendo.