Laguna Esmeralda

Me arrisco a dizer que a trilha para a Laguna Esmeralda seja a mais conhecida de Ushuaia. A maioria das pessoas que encontramos falaram sobre ou fizeram essa trilha, até[...]

Me arrisco a dizer que a trilha para a Laguna Esmeralda seja a mais conhecida de Ushuaia. A maioria das pessoas que encontramos falaram sobre ou fizeram essa trilha, até mesmo pessoas menos afeitas com práticas esportivas ao ar livre. A Laguna Esmeralda, para nós, é um símbolo que nos transmite superação e nostalgia, pois nos ano de 2019 fizemos essa trilha com o Ravi quando este tinha apenas um ano de idade, muitas coisas ficaram marca dessa época, mas essa trilha foi algo que jamais esqueceremos.

O acesso

O acesso para fazer a trilha para a Laguna Esmeralda é bem próximo do acesso da trilha para a Laguna Turquesa. Na frente do acesso tem um estacionamento que sempre está cheio, ao menos estava nas vezes que passamos por ali, e é possível ver o movimento de várias pessoas entrando e saindo da trilha a todo momento.

Nós nos preparamos para fazer essa trilha no período da tarde, tinha bastante sol, o tempo estava bem firme – o que possibilitou muitas pessoas fazer trilha naquele dia. Era possível ver pessoas de várias nacionalidades, vários idiomas que nem sei dizer quais são, mas todos com o mesmo objetivo: chegar na Laguna Esmeralda e contemplar sua beleza singular.

A parte inicial da trilha é bem tranquila, praticamente plana e bem arborizada, formada por aqueles bosques bonitos da Patagônia Argentina. Fomos caminhando com a Aila na mochilinha e seguindo num ritmo tranquilo. Ravi foi conversando e se divertindo como sempre faz e ficava brincando com o bastão de caminhada que sempre quando lembramos, levamos para facilitar nossa caminhada  por entre as pedras, árvores e nas subidas e descidas.

Depois de uns 30 minutos de caminhada chegamos numa parte aberta e sem muitas árvores de onde conseguimos ver as imponentes montanhas que nos cercavam naquele local. Uma vista linda das montanhas salpicadas de neve e que compõem um cenário comum da patagônia, mas nada comum para nós que somos do sudeste do Brasil. Paramos ali para tirar algumas fotos e seguimos em frente, mas agora por uma grande passarela que foi instalada sobre uma vegetação chamada turba. Na primeira vez que viemos aqui não tinha essas passarelas, assim tínhamos que caminhar por cima dessas vegetações e das poças de lama, o que tornava a trilha um pouco mais difícil, mas agora as passarelas nos davam o conforto de caminhar tranquilamente e limpos e ainda protegem a vegetação do esmagamento por nós humanos.

Os castores

Os castores são personagens bem conhecidos na patagônia, mas praticamente invisíveis, nós não conseguimos vê-los, mas os resultados de seus trabalhos estão em vários lugares da paisagem de Ushuaia. Sobretudo em regiões de bosques e rios, é uma devastação assustadora que parece ser inexplicável. Mas descobrimos alguns porquês da história dos castores e como eles foram para ali.

Esses roedores são espécies invasoras trazidas do Canadá por militares argentinos no ano de  1946 e colocados às margens do Lago Fagnano, na província da Terra do Fogo no extremo sul da Argentina a fim de fomentar a comercialização da pele do animal, mas como se vê tudo deu errado como na maioria ou todos os casos em que se trata de espécies invasoras. Os detalhes dessa história podem ser lidas no artigo da National Geographic

No sul da Argentina os castores não encontraram predadores naturais como tinham no Canadá os ursos e lobos e ainda encontraram árvores biologicamente mais sensíveis e menos resistentes a eles. Essa soma de fatores ocasionou um desastre que é visivelmente destruidor até os dias de hoje, e que não se restringiu a Terra do Fogo que é compartilhada pelo Chile e Argentina. Esses animais atravessaram o Estreito de Magalhães e é um  risco real para a parte sul da Patagônia, que tem um bioma arborizado com bosques nativos e lagos formados por água de degelo. 

É um problema que ainda está longe de ser resolvido, mas uma das soluções encontradas foi a caça desses animais, mas me parece que se faz necessário lançar mão de uma cooperação conjunta entre Chile e Argentina para que se possa ter resultados mais efetivos, mas, é claro, as coisas não são tão simples assim e esse bioma permanece correndo o risco de ser exponecimaente destruído.

Durante nossa caminhada na trilha para a Laguna Esmeralda passamos por uma dessas represas feita por esses castores invasores e digo com toda certeza que é algo impressionante. É uma engenharia maluca que represa uma quantidade absurda de água e que devasta bosques inteiros matando árvores centenárias, deixando um cenário de destruição.

Chegada na Laguna

Seguindo nossa caminhada, logo depois da represa dos castores entramos num bosque em que enfrentamos uma subida, digamos que de nível médio, e continuamos subindo por entre as árvores da patagônia por mais ou menos trinta minutos até chegar na parte mais plana da trilha onde já não tinha mais bosque, mas uma vegetação baixa e aparentemente seca. É comum esse tipo de vegetação nessa região, creio que por causa do frio. Mas o que continuou chamando nossa atenção foi a instalação de passarelas nessa parte da trilha que também tinha muito turbal e lama e agora era possível fazer pelas passarelas muito bem instaladas.

Fomos caminhando até começar a ter contato com um pequeno arroio proveniente das águas de degelo que transbordam da Laguna Esmeralda e seguimos paralelamente a ele. De longe, era possível ver as montanhas onde possivelmente, na base, estaria a tão esperada laguna e assim continuamos andando, conversando até finalmente chegar numa parte mais inclinada que dá acesso para contemplar a Laguna Esmeralda.

Estar ali de novo era lindo e ao mesmo tempo surreal. Lembramos que quando chegamos ali pela primeira vez, Tamiris estava carregando o Ravi e as pessoas aplaudiram, pois ficavam impressionadas pelo fato de termos conseguido fazer a trilha com um bebê de um ano naquela época em que a trilha tinha muitos desafios, como lama e frio, pois estávamos bem próximos do inverno. Nessa segunda vez, não tivemos aplausos, mas a sensação de que tudo tem valido a pena. Ver aquela Laguna exuberante e as montanhas ao seu redor nos faz pensar e imaginar o que éramos há seis anos atrás e o que somos hoje. Muitas coisas se passaram desde o primeiro dia em que estivemos ali; alegrias, tristeza, conquistas e perdas. Coisas que acometem a vida de todos os seres humanos e que, certamente, continuarão acontecendo em nossas vidas e que precisamos tentar estar preparados para lidar.

Dados da Trilha

  • Dificuldade do terreno: media/fácil
  • Exigência física: média
  • Distância: 9 km ida e volta
  • Duração: 4/5 horas ida e volta
  • Desnível: 220m

Fotos

Compartilhar:

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email
Threads
On Key

Mais postagens

imagem de uma ilha com o Farol do Fim do Mundo listrado em vermelho e branco. É uma pequna ilha e está cheio de lobos marinhos

Ushuaia

Ushuaia, a cidade conhecida como o fim do mundo, que desperta curiosidade do mais simples viajante; que torna possível sonhos quase impossíveis; que nos encantou à primeira vista e não falo de agora, estou falando de 2019, a primeira vez que estivemos por essa região tão simbólica da América do Sul. Ushuaia é quase a

uma paisagem com uma mata da patagónia e um graciar de fundo

Perito Moreno

A natureza pode nos surpreender de diversas maneiras e, na expedição que nós estamos, precisamos ficar atentos aos diversos fenômenos que encontramos e possivelmente encontraremos pela frente. Um dos fenômenos da natureza que pudemos observar na Patagônia Argentina e Chilena foram os glaciares. Mas um em específico ficou marcado por seu tamanho e beleza assustadora:

ruinas arqueológicas numa montanha localizada no norte da Argentina. As ruinas apresentam subdivisões de uma cidade dos povos originário de Quilmes

Ruínas de Quilmes

Há muito o que conhecer e desfrutar pelas rodovias argentinas, e confesso que por aqui nós temos ficado encantados com as belezas que encontramos no caminho. Estamos no norte da Argentina, em Tucumán, uma província que estamos percorrendo um pequeno pedaço que é atravessado pela mítica Ruta 40. E exatamente próxima a essa parte de

paisagem com uma grande montanha de fundo e uma escada contruídas pelos incas numa montanha menor na frente

El Shincal de Quimivil

El Shincal de Quimivil – Existia um mundo em que os povos tinham uma conexão direta e simbiótica com a natureza, esses povos viveram, caminharam, construíram em vários lugares do mundo e um desses lugares foi aqui na américa do sul, mais especificamente na Argentina numa cidade estranhamente chamada Londres. Próximo dali vivia um povo

Canal Beagle Visto de um pasto bem verde e com uma casa de interior ao fundo

Estância Túnel

A cidade de Ushuaia é um paraíso para amantes das trilhas, e como nós gostamos muito, não poderíamos deixar de fazer mais essa aventura com as crianças. O que vocês irão ler nesse artigo: A trilha para a Estância Túnel é bem próxima à cidade, está às margens do Canal Beagle e para chegar até